domingo, 28 de agosto de 2016

Hino ao Sol do artista russo Fiodor Bronikov (1827-1902) 

A VISÃO FILOSÓFICA DA MÚSICA E A EXTRAORDINÁRIA CAPACIDADE NTELECTUAL 
GREGA

A CIVILIZAÇÃO GREGA É CONSIDERADA A MAIS DESENVOLVIDA ARTÍSTICA E CULTURALMENTE DA ANTIGUIDADE. FOI NA GRÉCIA ANTIGA QUE AS PRIMEIRAS OBSERVAÇÕES TEÓRICAS, PRÁTICAS, CIENTÍFICAS E FILOSÓFICAS SOBRE A MÚSICA FORAM REGISTRADAS, O QUE PROPORCIONOU O INÍCIO DO DESENVOLVIMENTO MUSICAL DO MUNDO OCIDENTAL. A DESCOBERTA DA IMPORTÂNCIA DA MÚSICA PARA A SOCIEDADE E O SEU PAPEL NA EDUCAÇÃO TAMBÉM SE DEVE AOS GREGOS. SEUS GRANDES PENSADORES SALIENTAVAM QUE A MÚSICA INFLUENCIAVA NO CARÁTER DAQUELE QUE A ESCUTAVA E SENDO ASSIM, MUITO SE REFLETIA SOBRE A SUA FUNÇÃO NO ESTADO. ESSES MESMOS FILÓSOFOS TAMBÉM CONSIDERAVAM O ESTUDO DA MÚSICA FUNDAMENTAL PARA COMPREENDER A NATUREZA DO UNIVERSO. POR ESSE MOTIVO, DESTACAVAM O PAPEL DA MÚSICA NA EDUCAÇÃO. 

* Por Heloísa Godoy Fagundes


Pitágoras de Samos (c.570 a.C. – 493 a. C) é considerado o primeiro filósofo grego a desenvolver uma teoria da música e de sua importância no universo.

A Filosofia sempre buscou entender a música. Já em seus primórdios, na Grécia Antiga, Pitágoras de Samos mostrava seu encantamento com os intervalos musicais e sua relação com as formas puras da Matemática, além de seu efeito sobre a psique humana (o que, mais tarde, também atraiu Aristóteles). 

Pitágoras teria ficado intrigado com os sons de alturas diferentes que ouvia, emitidos por martelos de tamanhos distintos na oficina de um ferreiro. Fazendo experimentos com um monocórdio – um instrumento de corda – , ele estudou a relação entre a altura de uma nota e o comprimento da corda que a produz. Em seguida, calculou as razões matemáticas entre as notas e teorizou sobre seu efeito na harmonia musical. Mais tarde, Pitágoras foi além, passando das teorias matemáticas da música para a possível relação matemática entre os corpos celestes.  




Pitágoras em imagem pintada por Rafael.

Música celestial...
Na cosmologia grega, pensava-se que o universo fosse feito de uma série de esferas, com a Terra ao centro. Havia uma esfera para a Lua e outras para o Sol, cada um dos planetas e as estrelas fixas. Pitágoras acreditava na existência de uma relação matemática entre essas esferas e que tal relação correspondias à harmonia musical. O movimento das esferas geravam o que ele chamou de “música das esferas”. Para ele, esses sons eram imperceptíveis ao ouvido humano, mas revelavam a harmonia fundamental do universo. 

Ao lado o Utriusque Cosmi: obra pitagórica de Robert Fludd sobre a Música das Esferas (datado de 1617). Pitágoras vinculava o estudo da música ao da astronomia. Ele acreditava que o Sol, a Lua e os planetas, percorrendo órbitas esféricas em volta da Terra, faziam o universo vibrar, criando música e assinalando a harmonia fundamental do universo. 

Música e sociedade...
A música e a sociedade foram sempre ligadas na Antiguidade grega. Platão (423 – 348 a. C.) e Aristóteles (384 – 322 a. C.), principais filósofos gregos do século IV a.C., se preocuparam mais com o efeito da música sobre a sociedade e o caráter do ouvinte. 

Platão dedicou grande parte de sua obra A República enunciando sobre o papel da música na manutenção da ordem social. Para ele, o modo como a música era tocada formalmente era essencial para a estabilidade do Estado. Quaisquer inovações musicais seriam “desestabilizadoras das convenções políticas e sociais mais fundamentais”. 

Platão criticava a ideia de se avaliar uma música pelo prazer que proporcionava; para ele, a finalidade da música não era dar “prazer irracional”, mas levar harmonia e ordem à alma. Ademais, considerava que cabia à elite proteger a tradição musical contra “homens de gênio nativo... Ignorantes do que é correto e legítimo”. Dizia que quem era educado para se tornar governante do Estado ideal não devia ouvir música suave ou que induzisse à preguiça, mas sim aquela que encorajava a bravura e o autocontrole.


O filósofo grego Platão (c. 427-348 a.C.) argumentava que “a música deve incentivar a vida corajosa e harmoniosa”. Ele rejeitava a inovação musical que ameaçaria a estabilidade do Estado. Na pintura, Platão e seu jovem discípulo Aristóteles.

Aristóteles concordava que a música boa favorecia a moralidade humana e a má a corrompia, mas era mais aberto ao fator da alegria gerada pela música. Defendia que a finalidade dela era “instruir, entreter ou empregar as horas de inércia daqueles que vivem na ociosidade”. 

Aristóteles também discutiu o impacto psicológico dos modos musicais, ou escalas, usados pelos gregos, como os modos dórico, frígio e lídio (nomes derivados de regiões da Grécia), e seus efeitos sobre as emoções e o caráter.

Aristóxenes ou Aristoxeno de Tarento (360 — 300 a.C.) foi aluno de Aristóteles. Escreveu Elementos da Harmonia, descrição teórica sistemática da música. Possuía contato mais estreito que seus predecessores com a prática musical e a visão diferente dos intervalos musicais da harmonia e do ritmo. Para Aristóxenes, a única maneira de aprofundar o conhecimento da música era ouví-la e memorizá-la. Sua compreensão da música se dava pelo ouvido.

A última grande contribuição grega à teoria musical foi a de Ptolomeu de Alexandria, importante pensador (90–168 d.C.). No tratado Harmônica, ele conciliou o estudo de Pitágoras sobre a música, baseado na matemática, com a teoria de Aristóxenes, fundada na experiência musical. Ptolomeu ampliou a “música das esferas” proposta por Pitágoras, convertendo-a num sistema de conexões entre harmonia musical, astronomia e astrologia.
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* Heloísa Godoy Fagundes é pesquisadora, ghost writer e esportista. Amante da boa música, está há 10 anos no mercado musical de revistas. Já trabalhou na extinta Revista Weril e atualmente é publisher e uma das idealizadoras da Revista Keyboard Brasil.


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